É indiscutível que uma startup precisa de ajuda no começo da sua jornada. Criar ou validar um modelo de negócio exige boas doses de criatividade e disciplina, com pitadas de conhecimento e relacionamento. Principalmente no mercado-alvo em que a empresa quer atuar.
Criatividade e disciplina são características que um bom empreendedor sempre tem. Mas conhecimento e relacionamento no mercado-alvo, só os mais experientes.
Como suprir essas necessidades?
Existem muitas fontes nas quais o empreendedor iniciante pode buscar essa ajuda. As principais, atualmente, são investidores-anjo, mentores, aceleradoras, incubadoras e programas de apoio e aceleração públicos e privados.
Geralmente o conhecimento e relacionamento oferecidos pelas aceleradoras e programas de apoio são trazidos por profissionais chamados de mentores.
Na Bzplan, não por coincidência, todos os nossos investimentos tiveram apoio de uma aceleradora ou investidor-anjo antes da nossa entrada na sociedade. Essas pessoas foram essenciais em certo momento da vida da startup. Ajudaram a validar uma hipótese, trouxeram relacionamentos importantes, capacitaram os empreendedores e deram visibilidade para a empresa.
Mas qual a diferença de investidor-anjo e mentor?
Durante minha pesquisa de mestrado encontrei um artigo com uma abordagem muito interessante sobre as diferentes categorias do que a autora chamou de “investidores informais” de venture capital. O título do artigo era On the structure of the informal venture capital market in Sweden: developing investment roles, ou Sobre a estrutura do mercado informal de venture capital na Suécia: desenvolvimento de papéis de investimento.
O artigo trazia o diagrama abaixo para explicar cada uma das categorias.
O eixo vertical corresponde à quantidade de dinheiro o investidor está disposto a alocar na startup, enquanto o eixo horizontal diz respeito a conhecimento, relacionamento e experiência, relevantes para o negócio, que o investidor pode entregar para os empreendedores.
Explicando as quatro categorias:
1. Investidor orientado a capital
É a pessoa que tem dinheiro, mas não agrega muito para empresa. Seja por desconhecimento ou por falta de experiência. Geralmente essa posição é ocupada por um amigo rico ou investidor inexperiente. Nessas situações, a falta de compreensão dos riscos envolvidos no processo é muito comum. O empreendedor deve fazer um trabalho muito cuidadoso de alinhamento de expectativas antes do investimento e manter a transparência após o aporte. E claro, um bom contrato. A última coisa de que o empreendedor precisa nas primeiras fases da sua startup é alguém pressionando pelo retorno do capital investido.
2. Microinvestidor
Na maioria das vezes, o papel do microinvestidor é ocupado por membros da família. Principalmente os pais e o próprio cônjuge. Não raro vejo casais em que um segura as finanças da casa enquanto o outro está empreendendo. Essa entrega deve ser considerada como um investimento. Os cuidados aqui são muitos. Além do alinhamento de interesses, a questão emocional pesa muito. Nesse caso, não se deve arriscar mais do que a família pode perder. Todos os envolvidos devem estudar e entender o desafio que existe pela frente, e principalmente, apoiarem-se uns aos outros. Nenhuma decisão deve ser tomada à revelia de ninguém, a família deve se enxergar como um time. Decisões profissionais que o empreendedor antes tomava sozinho, agora, devem ser compartilhadas.
3. Investidor-anjo clássico
Segundo definição da Anjos do Brasil “O investimento anjo é feito por pessoas físicas com seu capital próprio em startups, empresas com alto potencial de crescimento. São empresários, executivos e profissionais liberais que agregam valor para o empreendedor com seus conhecimentos, experiência e rede de relacionamentos, além de recursos financeiros. O investidor tem uma participação minoritária no negócio, não atua no dia-a-dia da empresa e tem como papel apoiar o empreendedor na forma de mentor e conselheiro”.
Apesar da definição ser muito completa, eu acrescento que, para alguém se tornar um investidor-anjo, deve antes se preparar para a função. Independente da experiência executiva ou empreendedora que o profissional tenha, desenvolver uma tese de investimento, construir um portfólio empresas e aconselhar empreendedores iniciantes são tarefas diferentes e não triviais.
4. Investidor orientado a conhecimento – Mentor
Estes são os profissionais que têm muito a contribuir intelectualmente, mas não necessariamente aportam recursos financeiros. Os famosos mentores de startups.
É comum virmos sites de aceleradoras abarrotados de nomes de mentores de todos os tipos. Mas cuidado! O recurso mais preciso aportado por um mentor é o seu tempo. Em troca, geralmente, a empresa oferece uma pequena participação societária pelos preciosos conselhos. Um conselho assertivo pode valer mais do que um gordo investimento, justo. Mas me questiono qual é a efetividade de se buscar dezenas de conselhos de pessoas diferentes, algumas sem conhecimento algum sobre o mercado-alvo da empresa em questão.
Como escrevi no artigo Os 7 desperdícios do empreendedorismo: não saia por aí pedindo opinião para todo mundo. Além de não terem o conhecimento de que você precisa, eles não comprarão o seu produto, dirão a primeira coisa que vier à cabeça, não o farão refletir e muito provavelmente vão desanimá-lo a continuar na jornada.
Recomendações finais
Antes de escolher a qual fonte recorrer, o empreendedor tem tarefas muito importantes para fazer. Além de mapear as competências existentes na equipe para definir quais estão ausentes e que ele deve buscar no mercado, ele também deve construir um planejamento financeiro simples e consistente para determinar o montante do investimento necessário. Naturalmente, o empreendedor deve buscar apenas os profissionais que tenham o que ele precisa.
A responsabilidade de definir quais competências e quanto recurso a equipe e a empresa precisam é do empreendedor.
Outra polêmica é que, no dia-a-dia, qualquer pessoa que tenha muito dinheiro para investir em startups se autodenomina “investidor-anjo”, e o sujeito que gosta de dar opinião para empreendedores se chama ou é chamado de “mentor”. Na verdade, vai muito além disso.
O empreendedor deve avaliar o investidor-anjo e o mentor da mesma forma que é avaliado por eles. Questionar sobre a experiência e visão de longo prazo dele em relação à empresa e a sua própria carreira de investidor-anjo ou mentor. Afinal de contas, ninguém quer alguém que desista de ajudar no meio do caminho porque viu que não era bem o que queria, ou não tinha as competências para atuar como tal.
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