Como já comentei em artigos anteriores, a indústria do venture capital tem um tipo de especialização que se baseia nas fases de uma startup. A rigor, essas rodadas de investimento vão desde o financiamento próprio, passando pela família e amigos, investimento-anjo, capital semente, séries A, B, C e assim por diante.
De maneira geral, o venture capital profissional começa com o investidor-anjo. Sendo assim, para nossa análise, adotamos a definição de que o investimento-anjo financia o protótipo do produto ou serviço, o capital semente financia a entrada no mercado, série A, a primeira onda de expansão e, série B, a segunda, e assim por diante.
De acordo com os dados do mercado norte-americano, fornecidos pelo PitchBook, o tempo médio de vida, em anos, de uma empresa até chegar em cada um dos tipos de rodada de investimento segue o gráfico a seguir.
Temos alguns exemplos curiosos como o caso do Twitter, que, de acordo com o Crunchbase, captou US$ 1,06 bilhão em oito rodadas de investimento.
Já o Pinterest captou US$ 1,47 bilhão em 12 rodadas de investimento.
Evidente que temos que levar em consideração a disponibilidade de capital do mercado norte-americano. Por aqui, conseguimos contar nos dedos as empresas que fizeram rodadas de série C em diante. Independente disso, o financiamento por etapas é uma característica fundamental do mercado de venture capital.
Tem sido assim há décadas, e existem motivos muito plausíveis para esse comportamento.
1. Cada fase da empresa precisa de competências específicas
À medida que a empresa cresce e evolui, os desafios mudam. Uma empresa que está validando a proposta de valor precisa de competências completamente diferentes de uma empresa que está começando uma expansão internacional, por exemplo.
Os investidores profissionais, como anjos e gestores de venture capital, têm o perfil de entregar valor além do dinheiro – o chamado smart-money. Para conseguir fazer isso com eficácia, eles acabam se especializando em determinada fase da vida das empresas. No mesmo estágio, os desafios acabam sendo semelhantes, e os investidores podem se aprofundar, aproveitar os casos análogos e escalar a solução de problemas.
2. Os tamanhos dos investimentos devem ser parecidos dentro do mesmo portfólio
Investir em venture capital é um misto de ciência e arte. Digo isso porque todos sabem, desde o início, que algumas empresas não entregarão resultados e os sucessos precisarão pagar pelos fracassos. É lógico que ninguém sabe quais serão os fracassos no início, mesmo porque, se soubesse, ninguém investiria nessas oportunidades.
Sendo assim, teoricamente, a probabilidade de sucesso de cada investimento na fase de seleção é a mesma para todas as empresas investidas. Logo, se a probabilidade é a mesma, não faz sentido colocar montantes muito diferentes em empresas com probabilidades iguais de sucesso.
Se a empresa que o investidor colocou uma grande parcela do capital não der certo, não importa o quão bem-sucedidos foram os outros investimentos, o portfólio tem grandes chances de ter um resultado ruim.
Por isso os investidores definem uma faixa estreita para realizar as primeiras rodadas de seus investimentos. A faixa alvo da Bzplan, por exemplo, é de R$ 2 milhões até R$ 3 milhões.
3. O volume de capital alocado é proporcional ao risco do negócio
A jornada de qualquer empreendimento é repleta de riscos. Quanto mais cedo, mais incertezas. À medida que o tempo vai passando, as hipóteses vão sendo validadas, as métricas começam a aparecer e os acontecimentos ficam mais previsíveis.
Do ponto de vista do investidor, é mais saudável alocar menos capital em negócios com muito risco e mais capital nos que possuem menos risco. Quanto mais segurança no retorno do investimento, mais recursos o investidor estará disposto a colocar numa empresa.
4. O fornecimento de capital deve levar em consideração o avanço da empresa
Como uma grande parte dos investidores acaba fazendo uma quantidade de investimentos que não consegue acompanhar de perto, a indústria do venture capital estabeleceu o padrão dos investimentos em etapas. Em cada nova etapa o empreendedor deve se mostrar capaz de continuar acelerando o crescimento da empresa.
É como se delegassem a responsabilidade por cobrar resultados do negócio sempre aos próximos investidores da empresa. Está longe de ser o ideal, mas funciona – pelo menos em mercados com grande liquidez como nos EUA.
Por isso, investidores não financiam novos empreendimentos de uma só vez. Em vez disso, entregam os investimentos em etapas, forçando as empresas a atingir uma série de metas para garantir o financiamento futuro.
5. Dividir o aporte em rodadas de investimento é mais eficiente financeiramente
Como disse no segundo item, a probabilidade de sucesso de cada investimento na fase de seleção é a mesma para todas as empresas investidas. Porém, à medida que o tempo passa e o risco diminui, as probabilidades de sucesso mudam, e muito.
Sendo assim, os gestores de venture capital desenvolveram um mecanismo de investimento chamado follow-on. São rodadas de investimentos posteriores a primeira. Podem ser uma ou mais rodadas na mesma empresa, mas nunca em todas as empresas do portfólio. Apenas nas que estão com mais chances de sucesso.
Essa prática aumenta a eficiência do capital e maximiza o retorno dos investidores, pois as maiores apostas acabam ficando nas melhores empresas.
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