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Venture capital

Por que investidores e empreendedores precisam um do outro?

Por 24 de novembro de 2020No Comments

Não se faz nada sozinho

Apesar do risco intrínseco da atividade de investimento em inovação, cada vez mais a opção de investir em startups tem sido considerada por todos os tipos de investidores.

Mas, afinal, por que alguém ia querer colocar seu suado dinheiro nas mãos de sonhadores que querem fazer coisas que ninguém fez antes? Correndo o risco de perder tudo, diga-se de passagem?

E, do outro lado, por que empreendedores sonhadores, competentes, que estão diante de grandes oportunidades de mercado querem compartilhar os ganhos com os “donos do capital”?

Numa das primeiras vezes que vi uma palestra sobre venture capital na minha vida, um empreendedor experiente disse na lata: “Não quero um investidor pelo dinheiro!

Aquilo prendeu minha atenção na mesma hora. Fiquei extremamente curioso pelo que viria a seguir. Na época, eu estava começando minha carreira na área e pensei: “Quem esse cara acha que é para desdenhar o dinheiro dos investidores?”

A explicação foi simples e inesquecível, mudou minha percepção sobre o que é venture capital para sempre.

“Eu preciso de alguém para prestar contas!” — disse ele, com a humildade de um profissional que sabia que era imperfeito, que podia tomar decisões enviesadas e passionais e que via no papel de um sócio/conselheiro alguém que olharia para a empresa como um ativo, de forma fria, não como sua única fonte de renda mensal ou a aposta da sua vida.

Ter alguém para prestar contas é muito mais do que trocar os chapéus de sócio e de executivo quando necessário. É preciso muito mais que isso. É preciso de governança, transparência e disciplina — que só são possíveis quando você tem alguém vigilante sobre suas ações.

A capacidade de procrastinação e autossabotagem do ser humano é enorme. Essas coisas podem matar uma empresa. Na verdade, não só matam, mas como impedem que milhões de novos negócios nasçam.

O assunto é sério, e o problema é grande. Achar um sócio que pode te ajudar a ser mais disciplinado e comprometido não só é bom para a empresa, mas para a saúde mental do empreendedor também.

Se comprometer com alguém dá sentido para qualquer ação humana.

Investidores e empreendedores compartilhando risco

Não é tão difícil identificar os benefícios de trabalhar em equipe e abrir portas para novos sócios ao longo da jornada. Mas mesmo as equipes mais completas captam investimentos com sócios externos. Por que será?

Quando falamos do contexto de empresas de alto crescimento, inevitavelmente estamos falando de negócios inovadores. O processo de inovação tem uma característica perversa, mas indissociável: errar faz parte.

A dinâmica de prototipar, testar e aprender gera muitas falhas ao longo do caminho. Em todos os níveis. Desde os elementos estruturais mais básicos de um produto, como a cor de um botão, passando pelo modelo de negócios, o posicionamento estratégico, até qual empresa ou setor sobreviverá no médio longo prazo.

De certo ponto de vista, são apostas. E todos sabem que algumas darão certo e outras não.

Empresas inovadoras e de alto crescimento vivem essa realidade de forma intensa. As taxas de sucesso não são muito promissoras. Mas, quando alguém acerta, o prêmio costuma valer muito a pena.

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E é justamente por causa desse perfil agressivo de risco versus retorno que os empreendedores procuram mitigar o risco de inovar, compartilhando-o com outras pessoas.

Já o investidor, mitiga esse risco através da estratégia de portfólio. Investe em várias empresas sabendo que os sucessos pagarão pelos fracassos. Não se descobriu forma mais eficiente de investir em inovação do que a estratégia de portfólio, ou seja, a da diversificação.

Ambos estão compartilhando riscos. Além de financeiramente inteligente, essa estratégia serve para fortalecer o time que trabalha em prol do negócio.

No entanto, existem outras motivações do lado dos investidores que fazem esses profissionais tomarem esse risco. E essas motivações não são tão objetivas e técnicas quanto se imagina. Existe muita busca pela emoção, pela aventura e senso de propósito em jogo.

Valores são mais importantes do que você imagina

Por mais que a taxa básica de juros da economia brasileira ainda esteja no seu menor patamar de anos, investir em startups ainda não faz parte do cardápio recorrente de fundos de pensão e de grandes investidores.

Essa classe de ativos ainda possui um dos piores perfis de risco e liquidez do mercado. E o retorno é muito incerto. Não temos condições suficientes para os sucessos se tornarem inevitáveis e a indústria do capital de risco mostrar seu potencial máximo.

Os investimentos de venture capital no Brasil ainda representam uma ínfima parte do que acontece nos Estados Unidos, cerca de 100 vezes menor.

Esses são os fatos. E se você perguntar para um investidor de startups os motivos de ele se interessar por essas oportunidades, a imensa maioria vai citar algo além do dinheiro.

Encontrar uma boa equipe explorando uma boa oportunidade é, antes de mais nada, excitante. Desafia a capacidade e o intelecto de qualquer um em identificar bons negócios. E essa é uma competência muito admirada em nossa sociedade. Talvez a mais procurada em todo o mundo empresarial.

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Quem tem dinheiro quer saber onde aplicar. Quem não tem, quer aprender a gerá-lo.

Além disso, saber identificar uma boa oportunidade dá liberdade. Um dos valores mais importantes da existência humana.

E falando em valores, compartilhar risco, desafiar a nossa própria capacidade de avaliar bons negócios, gerar insights que vão mudar os rumos da empresa… tudo isso é muito interessante. Mas a jornada vai valer MUITO mais a pena se as pessoas compartilharem os mesmos valores e propósitos.

Por que buscar alguém com os mesmos objetivos que você é crucial

No fundo no fundo, o que nos move mesmo não são objetivos materiais, indicadores ou um determinado impacto. Não são coisas quantitativas. São as qualitativas.

Buscamos sentir, nos encontrar, descobrir nossa contribuição para o mundo, mudar a vida das pessoas e dar sentido a nossa vida.

Conhecer nossa real motivação e a régua moral que baliza nossas decisões cria um ciclo virtuoso, que se reforça a cada revisão, estabelecendo um compromisso. E tudo fica mais claro e prazeroso a cada reafirmação desse compromisso com a nossa consciência e com os outros.

As decisões se tornam mais fáceis, e até óbvias na maioria das vezes.

E quando você acha alguém que compartilha do seu propósito, que se emociona com as suas conquistas e está alinhado com seus valores, você tem algo muito poderoso nas mãos. Você tem a chance de construir algo que vai deixar um rastro permanente e contagiante de inspiração.

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